CALAGEM E DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO PARA O ARROZ IRRIGADO CULTIVADO EM CASA DE VEGETAÇÃO (1)
L. R. G.
GUILHERME (2), N. CURI (3) & G. A. A. GUEDES (3)
RESUMO
Com o objetivo de verificar a influência da calagem na disponibilidade de fósforo e na produção de matéria seca no cultivo de arroz irrigado em diferentes solos de várzea, foi realizado um experimento em casa de vegetação, utilizando-se material da camada superficial de sete solos dos pôlderes Careaçu e Bela Vista, Sul de Minas Gerais. Após a secagem, os solos foram destorroados, peneirados em malha de 2mm, caracterizados física e quimicamente, e acondicionados em vasos plásticos com capacidade de 5dm3. Os tratamentos consistiram na presença e na ausência de calagem, tendo esta sido feita de acordo com o método de saturação por bases: decorridos trinta dias de incubação com calcário, efetuou-se nova caracterização química do solo nas diversas parcelas. Após noventa dias de cultivo com arroz, colheu-se toda a parte aérea para determinação da matéria seca produzida e do fósforo absorvido. Os resultados obtidos mostraram um efeito variável da calagem, nos diferentes solos, em termos de disponibilidade e absorção de fósforo, bem como na produção de matéria seca pelo arroz cultivado sob condições de inundação. A elevação dos níveis de Ca e Mg no solo, em decorrência da calagem, não foi suficiente para aumentar a produção de matéria seca em solos com baixos teores de P. O decréscimo na absorção de P, verificado em alguns casos, foi mais pronunciado no solo com menor teor de matéria orgânica, o qual apresentou a maior elevação nos valores de pH com a inundação.
Termos de indexação: arroz irrigado, fósforo, calagem, solos de várzea.
SUMMARY: LIMING AND PHOSPHORUS AVAILABILITY FOR
WETLAND RICE UNDER GREENHOUSE CONDITIONS
An experiment was carried out under greenhouse
conditions using surface samples of seven soils from the polders Careaçu and
Bela Vista, in the South of Minas Gerais State, Brazil, in order to study the
effect of liming on phosphorus availability and dry matter production by
lowland rice. The soils were air dried, passed through a 2mm sieve and
conditioned in five liter pots. Two liming treatments were applied (presence
and absence of lime) according to the soil base saturation method. After 90
days of growth, dry matter production and phosphorus absorbed by rice plants
were determined. The results showed a differential effect of liming on
phosphorus availability and the dry matter production. The increase in Ca and
Mg due to liming, was not sufficient to increase dry matter production when P
was deficient. It was also observed that the decrease in P absorption by
plants, that occurred in some soils, was more pronounced in the soil with the
lower organic matter content, which presented the highest increase in pH values
after water logging.
Index terns: lowland rice, phosphorus, liming lowland
soils.
INTRODUÇÃO
O efeito da calagem na disponibilidade de
fósforo no solo e na sua absorção pelas plantas tem sido estudado, mostrando-se
os resultados bastante variáveis e até mesmo conflitantes (Haynes, 1984). No
caso específico de solos de várzea, onde a variabilidade de propriedades é
muito grande, esperar-se-ia um comportamento não menos variável. Além disso, a
inundação provoca alterações físico-químicas e biológicas que levam a variações
na disponibilidade da maioria dos nutrientes, imprimindo nesses solos
características bastante diversas daquelas em que se encontram quando drenados
(Ponnamperuma, 1972): destacam-se, entre estas, os aumentos do pH e da
disponibilidade do fósforo em solos ácidos, decorrentes, principalmente, das
condições de redução do solo (Pavan & Miyazawa, 1983).
Decréscimos na concentração de fósforo na
planta de arroz, em decorrência da calagem, têm sido observados em alguns
estudos (Pereira, 1985; Singh & Singh, 1986a, b). Com relação à produção,
embora alguns trabalhos tenham mostrado um efeito nulo da calagem (Fageria et
al, 1977; Leite et aI., 1970 Schmidt & Gargantini, 1970), aumentos
significativos no rendimento do arroz, ocasionados pela elevação do nível de Ca
e Mg em um planossolo do Rio Grande do Sul foram registrados por Vahl et aI.
(1978).
Segundo Barbosa Filho (1987), em cultura
irrigada em solos ácidos, onde ocorre uma elevação natural do pH pela inundação,
com conseqüente inibição da ação do alumínio, respostas do arroz à calagem
podem ocorrer principalmente em solos de extrema acidez e com baixos teores de
cálcio e magnésio. Neste contexto, deve-se considerar não só a importância do
cálcio na planta e no solo cultivado com arroz irrigado (Patella, 1976), mas
também o papel do magnésio na absorção de fósforo pela planta de arroz
(Fageria, 1984).
O presente trabalho foi desenvolvido em
condições de casa de vegetação, com o objetivo de verificar a eficiência da
calagem no aumento da disponibilidade de fósforo, na quantidade de fósforo
absorvido e na matéria seca produzida pelo arroz cultivado em solos de várzea,
sob condições de inundação.
MATERIAL E MÉTODOS
Coletaram-se amostras da camada superficial
de sete solos dos pôlderes Careaçu e Bela Vista, no Vale do Rio Sapucaí, Sul de
Minas Gerais. As unidades de solo utilizadas, na sua maioria, foram descritas e
classificadas por Avelar & Souza (1976): solos nos. 1, 2 e 7:
Glei húmico (HGH); 3: Orgânico (O); 4 e 5: Glei pouco húmico (HGP), e 6:
Cambissolo (C).
Após coletadas, as amostras foram secas ao
ar, destorroadas e passadas em peneira com malha de 2mm para, posteriormente,
serem caracterizadas química e fisicamente, seguindo-se os métodos descritos
pela EMBRAPA (1979), à exceção da matéria orgânica, que foi determinada segundo
Raij & Quaggio (1983). Determinou-se nestas também o fósforo extraído pelo
extrator Mehlich-1 (H2SO4 0,025N + HCI 0,05N) e resina
trocadora de íons, este último conforme método descrito por Raij & Quaggio
(1983).
Amostras dos solos (TFSA), acondicionadas em
vasos plásticos com capacidade de 5 litros, receberam os tratamentos que
consistiram em aplicação e não-aplicação de calcário. A calagem foi feita de
acordo com o método de saturação por bases, procurando-se atingir o valor V =
50%, não se aplicando, porém, mais do que o equivalente a 4t/ha de calcário,
mesmo quando recomendado pelo método, conforme Raij et aI. (1985). Com relação
à calagem, vale ressaltar ainda que o cálculo das quantidades de calcário
aplicadas foi feito com base em peso e considerando-se uma densidade de solo
(Ds) de 1g/cm3. Como os solos em estudo apresentaram dados de Ds
variáveis, cabe mencionar as quantidades de calcário adicionadas em cada solo,
a saber (g/4.300cm3 de TESA): solo 1= 4,15; 2= 4,73; 3= 3,93; 4=
5,46; 5= 6,56; 6= 2,00, e 7= 3,36.
Utilizou-se um calcário calcinado (PRNT= 105%;
40% de CaO e 15% de MgO) e, após trinta dias de incubação, com um grau de
umidade próximo a 70% do volume total de poros, procedeu-se a nova análise
química em amostras de solo de cada parcela, conforme método já descrito.
Efetuaram-se duas adubações nitrogenadas em cobertura, aos quinze e quarenta
dias após a semeadura, respectivamente, nas dosagens de 50 e 150kg/ha de N como
uréia. Não se fez, entretanto, nenhuma adubação de plantio.
Semeou-se na densidade de três plantas por
vaso a variedade de arroz INCA, e, após noventa dias de crescimento, foi
colhida e seca em estufa com ventilação forçada a 700C toda a parte
aérea para determinação da matéria seca produzida e concentração de fósforo,
cálcio e magnésio, segundo Hunter (s.d.).
Os vasos foram mantidos com umidade
correspondente a aproximadamente 70% do volume total de poros, conforme Freire
et aI. (1980), nos catorze primeiros dias após a semeadura; findo esse período,
aumentou-se a umidade até que fosse atingida uma lâmina de água de
aproximadamente 4cm de espessura, sendo esta mantida até o final do
experimento.
O delineamento experimental utilizado foi
inteiramente casualizado, com catorze tratamentos (sete solos e dois níveis de
calagem) e três repetições, num total de quarenta e dois vasos. Para cada
tratamento, manteve-se um vaso sem cultivo, do qual era retirada uma amostra de
solo, a cada duas semanas, para determinação do pH em H2O.
Avaliou-se a eficiência dos tratamentos
através da análise de variância (teste F), sendo efetuadas também análises de
regressão, utilizando-se a quantidade de fósforo absorvido (expressa pela
quantidade do nutriente translocado para a parte aérea), bem como a quantidade
de matéria seca produzida pelo arroz, como parâmetros da disponibilidade de
fósforo no solo. As equações ajustadas foram do tipo Y = a + b/X.
Para um estudo mais específico da influência
do magnésio na absorção de fósforo, estabeleceram-se correlações entre a
variação do teor de Mg no solo e na planta e a variação no P absorvido, após a
aplicação dos tratamentos com e sem calcário. Essa variação, para ambos os
parâmetros, foi calculada pela expressão:
Δ%= (tratamento com calcário - tratamento sem
calcário/tratamento sem calcário) x 100.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de análises químicas, após o
período de incubação com calcário, das unidades de solo estudadas, encontram-se
no quadro 1. Confirmando os resultados obtidos por Grande et al. (1986), em
trabalho envolvendo as unidades de solo do presente estudo, trata-se de solos
bastante ácidos, na sua maioria com teores baixos de bases trocáveis e grande
variação nos teores de matéria orgânica. A incubação com calcário promoveu
pequena elevação nos valores de pH, havendo uma relação inversa muito estreita
entre o pH após a incubação e o teor de matéria orgânica do solo (pH H2O
= 5,57-0,23 ln M.O.; r2 = 0,90, p≤ 0,01), o
que demonstra o efeito tamponante da matéria orgânica com relação à elevação do
pH desses solos. Tal efeito existiu, pois, embora fossem esperados valores
próximos para o pH dos diferentes solos com a elevação do valor V% a 50%,
ressalta-se que, nos solos 1, 2, 3, 4 e 7, a dose máxima aplicada foi a
correspondente a 4t/ha (conquanto as necessidades para atingir V = 50% fossem
superiores), conforme Raij et aI. (1985). Tais dosagens explicam porque somente
os solos 5 e 6 apresentaram valores de V em torno de 50%, após a incubação com
calcário.
Com relação ao cálculo das quantidades de
calcário aplicadas, cabe mencionar consideração de uma densidade do solo igual
a 1g/cm3 , para os diversos solos estudados, levou a uma
redução das doses nos solos mais ricos em matéria orgânica, nos quais a
densidade do solo normalmente é menor do que 1g/cm3.
Neste contexto, considerando-se as
quantidades de calcário aplicadas aos diferentes solos e os teores de Ca e Mg
do calcário utilizado, pode-se constatar que, de maneira geral, os valores
obtidos na análise de solo e apresentadas no quadro 1 (com calcário)
encontram-se bem próximos daqueles que seriam esperados pela reação completa do
calcário. Isso sugere um tempo suficiente para sua reação.
Com relação ao fósforo, observaram-se grandes
variações nos seus teores, entre os solos estudados. No solo 2, houve um
acréscimo considerável no P-resina com a calagem, enquanto no 7 houve pequeno
decréscimo. Nos demais solos, o P-resina foi pouco influenciado pela calagem.
Correlações estabelecidas entre a matéria
seca e o P absorvido, com os teores de P no solo, determinados pelo método da
resina trocadora de íons (Figuras 1 e 2), demonstraram que, na presença de
calcário, houve uma tendência de melhor ajuste das equações. Este fato sugere que
uma calagem nesses solos pode tornar a produção de matéria seca e a quantidade
de fósforo absorvido pelo arroz mais estreitamente relacionados aos teores de P
no solo.
Cabe ressaltar que, no presente estudo,
optou-se pelos resultados de P fornecidos através do método da resina trocadora
de íons, em virtude de esta se ter mostrado mais adequada que o extrator de
Mehlich na avaliação da disponibilidade de P para o arroz irrigado, o que
concorda com os resultados obtidos por Grande et al. (1986). Tal comportamento
foi observado tanto em relação à matéria seca (sem calcário, r2=
0,32; com calcário r2= 0,21), quanto ao P absorvido (sem calcário, r2=
0,25; com calcário, r2= 0,21).
Quadro 1. Resultados de análises químicas,
após o período de incubação, de sete solos dos pôlderes Careaçu e Bela Vista,
no Vale do Sapucaí (MG)
Solo (1) |
pH |
Ca |
Mg |
K |
H+Al |
S |
T |
P |
V |
Matéria Orgânica |
|
H2O |
CaCl2 0,01M |
||||||||||
no |
|
meq./100 cm3 |
μg/cm3 |
% |
|||||||
Sem calcário |
|||||||||||
1 |
4,8 |
4,4 |
1,3 |
0,5 |
0,33 |
11,1 |
2,1 |
13,2 |
29 |
16 |
13,2 |
2 |
4,7 |
4,1 |
1,5 |
0,6 |
0,22 |
10,6 |
2,3 |
12,9 |
35 |
18 |
12,8 |
3 |
4,8 |
4,0 |
1,2 |
0,4 |
0,17 |
14,7 |
1,8 |
16,5 |
20 |
11 |
21,0 |
4 |
4,6 |
4,1 |
1,1 |
0,2 |
0,16 |
11,8 |
1,5 |
13,3 |
16 |
11 |
12,5 |
5 |
4,7 |
4,1 |
1,8 |
0,5 |
0,16 |
8,3 |
2,5 |
10,8 |
56 |
23 |
4,4 |
6 |
5,0 |
4,5 |
1,8 |
0,9 |
0,25 |
4,2 |
3,0 |
7,2 |
17 |
42 |
3,1 |
7 |
4,5 |
4,0 |
0,8 |
0,2 |
0,14 |
12,7 |
1,1 |
13,8 |
21 |
8 |
14,8 |
Com calcário |
|||||||||||
1 |
5,0 |
4,6 |
2,2 |
0,9 |
0,28 |
8,8 |
3,4 |
12,2 |
28 |
28 |
13,2 |
2 |
5,0 |
4,5 |
1,7 |
1,4 |
0,23 |
8,5 |
3,3 |
11,8 |
54 |
28 |
13,2 |
3 |
4,9 |
4,3 |
2,6 |
1,3 |
0,18 |
11,8 |
4,1 |
15,9 |
21 |
26 |
20,3 |
4 |
5,1 |
4,9 |
2,9 |
1,3 |
0,15 |
8,1 |
4,4 |
12,5 |
16 |
35 |
12,1 |
5 |
5,2 |
5,1 |
3,8 |
1,4 |
0,15 |
4,7 |
5,4 |
10,1 |
56 |
53 |
4,6 |
6 |
5,3 |
4,9 |
2,6 |
1,2 |
0,26 |
3,4 |
4,1 |
7,5 |
18 |
55 |
3,3 |
7 |
4,8 |
4,4 |
1,5 |
0,8 |
0,11 |
10,0 |
2,4 |
12,4 |
17 |
19 |
14,8 |
Figura 1. Correlações entre os teores de
fósforo no solo (extraído por resina trocadora de íons), após incubação com
calcário, e as quantidades de matéria seca produzida pelo arroz.
Quanto aos resultados de matéria seca
produzida e quantidade de fósforo absorvido pelo arroz - Quadro 2 - verifica-se
também uma resposta variável, nos diferentes solos, em relação à calagem,
comprovada pela existência de interação significativa entre calagem e solos, na
análise de variância. O desdobramento dessa interação mostrou um efeito
altamente significativo da calagem sobre a produção de matéria seca somente no
solo 5, que, além de possuir o maior teor de P-resina, apresentou também os
maiores teores de Ca + Mg após o período de incubação (Quadro 1), entre todos
os solos. Convém ressaltar ainda que, para o solo 4, verificou-se um efeito
próximo ao nível de significância de 5% e que ele apresentou também uma
elevação expressiva nos valores de Ca e Mg com a calagem, revelando, porém, um
teor baixo de P-resina. Isso sugere que respostas positivas na produção de
matéria seca pelo arroz, em decorrência da elevação dos níveis de Ca e Mg
através da calagem, conforme observaram Vahl et al. (1978), são menos prováveis
de ocorrer em solos com níveis baixos de P. A falta de resposta verificada para
os demais solos, que, concordando com os resultados obtidos em outros trabalhos
(Fageria et al., 1977; Leite et al., 1970; Schmidt & Gargantini, 1970),
parece estar relacionada não apenas com o insuficiente aumento nos teores de Ca
e Mg, após a incubação com calcário, em alguns solos, mas também com os níveis
baixos de P em outros.
Figura 2. Correlações entre os teores de
fósforo no solo (extraído por resina trocadora de íons), após incubação com
calcário, e as quantidades de fósforo absorvido pelo arroz.
Quadro 2. Matéria seca produzida e fósforo
absorvido em arroz cultivado em sete solos dos pôlderes Bela Vista e Careaçu,
Sul de Minas Gerais, na presença e na ausência de calagem
Solo n0 |
Matéria seca(1) |
Fósforo absorvido (2) |
||
Com calcário |
Sem calcário |
Com calcário |
Sem calcário |
|
g/ vaso |
mg/ vaso |
|||
1 |
32,27 |
33,30 |
75,14 |
77,51 |
2 |
39,99 |
39,16 |
102,83 |
103,06 |
3 |
24,67 |
24,58 |
39,47 |
33,48 |
4 |
22,27 |
19,84 |
37,14* |
27,68 |
5 |
43,99** |
35,53 |
117,37 |
108,96 |
6 |
23,89 |
23,93 |
55,82 |
62,91 |
7 |
20,10 |
18,11 |
53,62* |
42,98 |
(1) C.V. = 5,7%. (2)
C.V. =7,6%. **Significativo ao nível de 1 % . * Significativo ao nível de 5%.
A variável fósforo absorvido mostrou-se
significativamente correlacionada com a produção de matéria seca, tanto na
ausência (r2= 0,83)como na presença de calagem (r2=
0,91). O desdobramento da interação calagem x solos mostrou um efeito
significativo da calagem (p≤0,05) no aumento da absorção de P somente nos solos 4
e 7.
Comportamento semelhante ao do P foi
observado com o cálcio absorvido, para o qual diferenças significativas
ocorreram somente nos solos 4, 5 e 7 (Quadro 3). Já para o magnésio, à exceção
do solo 6, foram observadas nos demais, diferenças significativas na absorção.
É interessante verificar que os maiores
aumentos, em termos percentuais, no teor de magnésio no solo após a incubação
com calcário, foram encontrados nos solos 4 (Δ Mg = 550%) e 7
(Δ Mg = 300%), e que essa variação percentual (Δ % Mg no solo) esteve estreitamente correlacionada com a da quantidade
de fósforo absorvido (Δ % P absorvido) nos diferentes solos, conforme
ilustra a figura 3.
Essa estreita associação foi verificada
também quando se correlacionou a variação percentual na quantidade de magnésio
absorvido com aquela obtida para o fósforo absorvido (Δ % P absorvido = -16,75 + 0,52 Δ % Mg absorvido; r2= 0,93; p≤0,01), o que evidencia o importante papel do magnésio na absorção do
fósforo pela planta de arroz (Fageria, 1984). Ressalta-se, entretanto, que a
existência de valores negativos na variação percentual de fósforo absorvido mostra
que em alguns casos, houve uma redução na absorção de P após a incubação com
calcário.
Quadro 3. Quantidade de cálcio e magnésio
absorvidos, em cultivado em sete solos dos pôlderes Bela Vista e Careaçu, Sul de
Minas Gerais, na presença e na ausência de calagem
Solo |
Cálcio absorvido (1) |
Magnésio absorvido (2) |
||
Com calcário |
Sem calcário |
Com calcário |
Sem calcário |
|
n0 |
mg/ vaso |
|||
1 |
104,16 |
98,49 |
137,60** |
112,94 |
2 |
133,15 |
133,98 |
202,76** |
164,33 |
3 |
73,92 |
68,53 |
145,27** |
95,52 |
4 |
69,07** |
41,52 |
109,9l** |
56,71 |
5 |
183,42** |
132,60 |
207,08** |
123,18 |
6 |
78,96 |
82.36 |
74,18 |
61,41 |
7 |
65,74* |
54,32 |
107,16** |
62,86 |
(1) C.V. = 9,9%. (2) C.V. = 8,0%. **
Significativo ao nível de 1%. * Significativo ao nível de 5%.
Figura 3. Correlação entre o aumento no teor
de magnésio do solo após incubação com calcário, e a variação nas quantidades
de fósforo absolvido pelo arroz: (%) = ((com calcário - sem calcário)/sem
calcário) x 100.
Singh & Singh (1980a) observaram
decréscimos na absorção de P pelo arroz, com a adição de CaCO3 em
solos inundados, atribuindo-os à fixação do P nativo e à presença do CaCO3,
devido à formação de fosfatos cálcio de baixa solubilidade. Pode-se levantar
ainda seguinte hipótese para uma redução na absorção de P: sendo o cálcio um
nutriente absorvido preferencialmente através do fluxo de massa, e não havendo
limitação para tal processo em solos inundados, um excesso deste na rizosfera
do arroz poderá ocasionar também, uma precipitação do P nesta região. Esta
reduziria não somente a absorção de P, mas, também, de cálcio, conforme
Jakobsen (1979). Para isso, deve-se considerar, entretanto, o valor de pH do
solo após a inundação, pois, sendo a solubilidade dos fosfatos de cálcio no
solo diminuída pelo aumento do pH (Raij, 1987), a elevação do pH com a
inundação deverá atingir um nível tal que permita a precipitação do fosfato
pelo cálcio.
Nesse contexto, é interessante observar, no
presente trabalho, que esta seqüência de acontecimentos parece se aplicar
perfeitamente ao solo 6: neste ocorreu uma redução (embora não significativa ao
nível de 5%) tanto na absorção de P quanto na de cálcio, pelo arroz, aliadas à
maior elevação no pH após a inundação, entre todos os solos - Quadro 4.
Ainda com relação ao pH, pode-se verificar
que a inundação provocou elevação geral nos diferentes solos, independentemente
da calagem. Tal comportamento está de acordo com o observado em outros
trabalhos (Moraes, 1973; Obermueller & Mikkelsen, 1974; Ponnamperuma,
1972).
Cabe ressaltar, também, que os valores de pH
após a submersão mostraram estreita correlação com os teores de matéria
orgânica (M.O.) do solo - Figura 4 - podendo esta mesma tendência ser observada
no trabalho de Ponnamperuma (1972). Isso sugere uma ação tamponante da M.O.
também nestas condições, podendo-se observar, inclusive, no presente estudo,
que para os solos com teores de M.O. superiores a 12%, os valores de pH, após
dez semanas de submersão, mantiveram-se iguais ou inferiores a 6,2.
Quadro 4. Valores
de pH em H2O ao final do período de submersão (dez semanas)
Solo n0 |
pH após submersão |
|
Com calcário |
Sem calcário |
|
1 |
6,2 |
6,1 |
2 |
6,1 |
6,1 |
3 |
6,0 |
6,1 |
4 |
6,1 |
6,0 |
5 |
6,5 |
6,3 |
6 |
6,9 |
6,8 |
7 |
6,2 |
6,2 |
Figura 4. Correlação entre os teores de
matéria orgânica do solo e o pH H2O após dez semanas de submersão.
CONCLUSÕES
Publicado originalmente na Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas - SP 13:341-347, 1989
LITERATURA CITADA
AVELAR,
B. C. & SOUZA, J. J. de, Levantamento de reconhecimento detalhado dos solos
dos polders Careaçu e Bela Vista", Vale do Sapucaí, MG. In; CONGRESSO
BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 15., Campinas, 1975. Anais. Campinas, Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo, 1976. p.337 -444.
BARBOSA
FILHO, M. P. Nutrição e adubação do arroz: sequeiro e irrigado. Piracicaba,
Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1987. 129p.
(Boletim Técnico, 9) EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Serviço
Nacional de Levantamento e Conservação do Solo. Manual de método de análise do
solo. Rio de Janeiro. 1979. 1v.
FAGERIA,
N. K. Adubação e nutrição mineral da cultura do arroz. Goiânia, EMBRAPA/CNPAF,
1984. 341p.
FAGERIA,
N. K.; ZIMMERMANN, F. J. P. & LOPES, A.M. Resposta do arroz irrigado à
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1977.
FREIRE,
J.C.; RIBEIRO. M. A. V.; BAHIA, V.G.; LOPES, A.M. & AQUINO, L. H. de,
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