IMPORTÂNCIA
DA DELEGAÇÃO NO AMBIENTE OPERACIONAL Revisão de setembro de 2002. |
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Luiz Carlos Miller*
Delegar
autoridade demanda um aprendizado da organização para negociar limites. Não
pode apenas constituir-se numa atitude isolada, onde entrega-se uma incumbência
para que seja desempenhada e o restante fica por conta de quem a recebeu. Para
agregar valor ela deva ser precedida de negociações que definam com clareza os
limites de atuação de cada indivíduo ou grupo. O conhecimento dos
limites é um fator importante para a prática da liberdade. Quando se tem
clareza do espaço de domínio, a atuação individual ou de um grupo pode ser
desenvolvida sem o temor de se estar ultrapassando limites.
Nesse
ambiente organizacional, o posicionamento desses limites passa a ser definido a
partir constantes discussões entre os empreendedores, definindo o espaço para
a atuação de cada indivíduo ou grupo. Ele acontece sempre como expansão
lateral e não como posto hierárquico, como uma conseqüência da competência
e da busca de soluções agregadoras para as rotinas produtivas. Os parâmetros
referenciais para essas negociações e expansões de limites serão uma decorrência
natural das atuações dos funcionários nas rotinas de produção, tendo como
embasamento os resultados observados no processo produtivo. O segredo para o
sucesso dessas alterações de limites laterais reside em negociações,
sustentadas por resultados efetivamente produzidos, entre aqueles que os estão
produzindo, com o acompanhamento do
responsável pela coordenação das discussões, conduzidas com a
finalidade de redefinir esses limites para a atuação operacional.
Uma
maior delegação de autoridade, associada a um processo decisório conjunto,
envolvendo as pessoas da base produtiva, poderá ser essencial para a solução
de tarefas que normalmente seguem longos trajetos hierárquicos para receberem
uma solução definitiva (figura 1). O desejo de adotar esse procedimento de
relacionamento no processo produtivo implica em
garantir que os trabalhadores adquiram experiência e aprendam a assumir
as suas responsabilidades para com as diversas áreas da empresa. Essa situação
é ilustrada com extrema clareza em um texto escrito por Denton (1995) -
Organização Horizontal - onde, citando Peter Drake, ele define que "embora o CEP (controle estatístico
da produção) melhore a qualidade, seu grande impacto é na organização
social da empresa. Os grandes ganhos de produtividades obtidos pelas organizações
japonesas são o resultado das mudanças organizacionais decorrentes da implantação
do CEP. O CEP apenas será eficaz se houver delegação de poder e decisão para
as posições mais baixas das pirâmides hierárquicas. Esses círculos de qualidade só funcionam com metodologia e "feed
back" confiáveis
como os fornecidos pelo CEP. Sozinhos os círculos de qualidade não serão
capazes de mudar o sistema. Primeiro é preciso mudar o sistema; só então as
ferramentas serão eficazes".
Ainda
considerando o mesmo texto o mesmo texto pode-se deduzir que da mesma forma que
os CEP, a TQM (total
quality management)
também constitui-se numa ferramenta ou filosofia que exige para a sua aplicação
mais delegação, maior compartilhamento de poder e mais qualidade e
desenvolvimento das capacidades dos funcionários. Na medida em que as
estruturas das organizações oferecem resistências para proporcionarem
relacionamentos com maior igualdade, também essa ferramenta simplesmente deixará
de funcionar com a desenvoltura que a tornou tão atraente
ao longo dessas últimas décadas.
A
mudança da sistemática gerencial, conforme proposta pelo citado autor, aponta
para uma intensa horizontalização do processo produtivo, experiência essa que
já vem sendo praticada com sucesso pela Destilaria GIASA no interior do Estado
da Paraíba. Essa horinzontalização aponta na direção oposta das organizações
tradicionais. Enquanto as organizações tradicionais, acentuadamente
verticalizadas, tendem a ser fortemente burocratizadas, com áreas operacionais
isoladas e limites rígidos, onde cada etapa ou seqüência do processo
produtivo é assombrada por preocupações como a auto proteção, preocupações
políticas e manipulações interesseiras, um modelo de gestão, está concebido
para facilitar o relacionamento entre as pessoas, criando condições que
possibilitem a efetivação dos preceitos participativos, similares aos
sugeridos por Drake.
As
experiências obtidas a partir de relatos e de observações de campo
possibilitam concluir que o verdadeiro legado dessa pirâmide vertical tem sido
a sua contribuição para a erosão da base produtiva, induzindo as organizações
que ainda as adotam, a conviverem com significativas perdas, com freqüência de
quantificação muito difícil, tornando-as menos rentáveis do que seriam as
suas reais capacidades de faze-lo.
Muitas
vezes, essas perdas advêm da confusão existente no processo decisório dessas
empresas. Esse processo é normalmente permeado por uma excessiva centralização
das decisões. Como conseqüência dessa confusão, observa-se que a postura com
relação ao controle de custos e geração de lucros nessas empresas, é
tratada como uma atividade individual e altamente centralizada. Nas organizações
com uma ampla coletividade, onde se convive com uma maior distribuição do
poder decisório (delegação), a geração dos lucros e o controle de custos não
são vistos como uma atividade individual. Elas entendem ser necessário o
acesso de todos às informações que gerem custos, para que esses indivíduos
possam trabalhar na otimização da lucratividade. Não é possível esperar
melhorias na lucratividade, ignorando exatamente aqueles indivíduos que
realizam o grande conjunto de operações geradores dos custos na organização.
Modelos
de Gestão com intensa participação dos funcionários, sustentado por um alto
nível de delegação nos processos decisórios, podem parecer inicialmente ameaçadores,
porém os resultados advindos de sua implantação têm sido suficientemente
satisfatórios para que muitas empresas sintam-se motivadas para implantá-los
em suas rotinas operacionais.